O Apagão Tático do Futebol Brasileiro
seg, 13/02/12
por Emerson Gonçalves |
categoria Colaboradores, Futebol do Brasil
O texto que vem logo abaixo é de autoria do Fernando Pinto Ferreira, diretor da Pluri Consultoria e responsável pelos diversos levantamentos sobre jogadores, times e campeonatos. Ao receber esse material do Fernando, optei por não editá-lo e,simplesmente, transcrevê-lo para vocês tomarem conhecimento.
O assunto é extremamente interessante e muito, muito pertinente. Em linhas gerais, concordo em gênero, número e grau com o que ele escreveu.
O Apagão Tático do Futebol Brasileiro
Na série de relatórios sobre a Taça Libertadores preparados pela Pluri Consultoria, os números mostram a hegemonia do futebol brasileiro em termos de valores dos elencos dos times participantes. As 6 equipes brasileiras são as mais valiosas do campeonato, representando 44% do valor de mercado total. Ao mesmo tempo, a lista dos 25 jogadores mais valiosos conta com 16 brasileiros, e entre os 10 mais, 9 são daqui.
Em conversas com colegas jornalistas após a divulgação do Estudo, surgiu uma inevitável questão: Ok, temos realmente o poderio econômico no futebol da América Latina, mas porque isso não se traduz em uma superioridade mais visível dentro de campo?
Talvez seja um pouco cedo para um julgamento, mas o passado recente (participação dos times brasileiros na última sul-americana e Libertadores, Santos como exceção) e o começo de nossa atual participação sugerem uma vida dura para os times brasileiros em 2012.
De volta à pergunta, temos dois caminhos para tentar respondê-la.
No primeiro, vamos lançar mão do lugar-comum: o futebol é diferente, essa é a graça do futebol, futebol é uma caixinha de surpresa, etc, etc.
Colocando os velhos chavões de lado, podemos passar para a segunda opção e levantar outras hipóteses, a começar pela tão falada queda na qualidade técnica do futebol brasileiro. Neymar (o fora da curva) à parte, de fato passamos hoje por uma espécie de HIATO DE TALENTO no futebol Brasileiro. O PAINEL PLURI FUTEBOL divulgado no fim de 2011 mostrou que poucos jogadores do Brasil aparecem na lista dos mais valiosos do mundo, e os que mais se destacam são defensores. Mas não podemos negar que, se em termos mundiais a maré não anda muito boa para nós, ao menos em nosso continente não há muito espaço para comparação. Por questões econômicas já descritas em relatórios anteriores, estamos em melhores condições de manter alguns de nossos principais jogadores por aqui, o que permite que nossos times disputem a Libertadores com jogadores de destaque em seus elencos, como Neymar, Ganso, Leandro Damião, Oscar, Dedé, Paulinho, Wagner Love, Thiago Neves, Fred, etc.
Ao mesmo tempo, por não ter a mesma força econômica, nossos vizinhos têm mais dificuldade em manter seus principais jogadores, o que enfraquece até mesmo grifes como Boca Juniors. Um bom exemplo é o caso de Eduardo Vargas da Universidad de Chile, destaque da última Sul-Americana, e que foi rapidamente vendido (barato!) para o Napoli por 11 milhões de Euros.
Então, se nosso problema não são as peças que entram em campo, o que está acontecendo?
Um APAGÃO TÁTICO.
Não há nada de novo sendo produzido pelos técnicos brasileiros. Pior, não temos conseguido sequer copiar o que vem ocorrendo lá fora, onde se joga atualmente um futebol mais bonito. Os jogadores brasileiros são pouco eficientes taticamente, praticam um futebol burocrático, caracterizado por muito individualismo, enormes espaços vazios em campo e excessiva lentidão (ou correria desenfreada). Além disso, atualmente somos campeões mundiais em faltas, catimba, simulação e reclamação com o juiz. Tudo isso deveria ser corrigido pelas comissões técnicas, e monitorado de perto pelos clubes, que deveriam valorizar a venda de um produto de melhor qualidade a seus consumidores (torcedores).
Talvez seja hora de reavaliarmos alguns preconceitos (sim, eles existem) e aumentar nosso intercâmbio com o resto do mundo, até mesmo como forma de arejar o ambiente futebolístico nacional.
Somos ainda um país muito fechado, com cerca de 5% dos jogadores estrangeiros atuando nos times da série A, o menor nível entre as 60 maiores ligas do mundo. Se queremos que nossos clubes sejam fortes e competitivos a nível internacional, é preciso aumentar nosso intercâmbio com outros mercados, como ocorre em qualquer segmento. É fato que está ocorrendo por aqui uma clara tendência de aumento da importação de jogadores latinoamericanos pelos times brasileiros, e essa é uma boa notícia em termos técnicos, táticos e financeiros: (http://globoesporte.globo.com/programas/esporteespetacular/noticia/2012/02/cada-quatro-dias-um-sul-americano-chega-ao-brasil-para-jogar-futebol.html)
Mas que tal avançarmos um passo e também ampliar a presença de técnicos estrangeiros? Ou estamos satisfeitos com o cenário atual?
Autor: Fernando Pinto Ferreira economista, especialista em gestão e marketing do esporte, pesquisa de mercado e diretor da Pluri Consultoria.
Fonte: http://globoesporte.globo.com/platb/olharcronicoesportivo/2012/02/13/o-apagao-tatico-do-futebol-brasileiro/