As despesas financeiras crescem e florescem e tudo indica que os próximos anos mostrarão o desabrochar de novas e maiores. Já havia tocado nesse ponto ao fazer um comentário sobre o balanço do São Paulo, onde o que mais chamou minha atenção, a ponto de ser o título do post, foi o absurdo valor pago em juros para instituições bancárias: praticamente, 24 milhões de reais o mesmo valor que o clube deveria ter pago ao Santos para ficar com sua parte nos direitos econômicos de Ganso. Sem caixa, bancou 16 milhões e ficou com apenas 32% dos direitos em caso de futura transferência. Os oito milhões restantes foram pagos pelo DIS.
Dentro dessa linha, vamos ver agora um estudo da Pluri Consultoria sobre as despesas e receitas financeiras de nossos clubes e seu impacto sobre as contas de 25 clubes. O foco estará nas despesas financeiras líquidas, que correspondem à diferença entre as receitas e as despesas financeiras de cada clube.
Embora pouco conhecidas em face da realidade dos clubes, as receitas financeiras existem, sim, e seus principais componentes são a receita com aplicações financeiras, descontos recebidos por antecipações ou negociações, variação cambial ativa, recuperação de despesas e outras mais.
Entre os principais componentes das despesas financeiras, essas sim, muito bem conhecidas, estão os juros sobre empréstimos bancários e financiamentos, juros de mora, multas, despesas bancárias, encargos financeiros sobre impostos, IRRF s/ aplicações financeiras, IOF, descontos concedidos, variação cambial passiva, despesas com operações de câmbio, etc.
Por sua natureza, a despesa financeira é nociva para a saúde financeira dos clubes, já que, em sua grande maioria, é baseada em passivos que não geram receitas futuras. Naturalmente, há as despesas financeiras geradas por empréstimos que foram usados em investimentos e essas podem escapar da definição de nocivas, desde que a operação como um todo tenha sido bem realizada e o investimento de fato traga retorno.
Outra parte dessas despesas é oriunda das contas especiais, uma necessidade que todo clube tem para manter seu caixa plenamente operacional todos os dias do ano. Não podem, igualmente, ser consideradas como nocivas, a menos que o cheque especial esteja sendo usado para financiar despesas correntes, um erro básico e perigoso inclusive (e principalmente, com a ajuda luxuosa dos cartões de crédito) para nós, simples pessoas físicas.
Pelos balanços analisados para esse trabalho, a Pluri levantou um total de R$ 328 milhões em despesas financeiras líquidas. A receita total dos 25 clubes foi de R$ 3,25 bilhões e a soma das despesas foi de R$ 327,9 milhões, ou seja, 10,1% de toda a receita desses clubes.
Para efeito comparativo, um percentual considerado razoável, mas já no limite, seria de 4% do valor das receitas. Pessoalmente, penso que até 1% seja o mais razoável. Acima disso já se começa a entrar em terrenos diferentes e as justificativas devem ser extremamente boas para que o dinheiro não seja considerado como jogado fora.
O único clube a apresentar resultado positivo nessa conta foi o Atlético Paranaense R$ 20,2 milhões de reais. Esse valor, entretanto, é influenciado pelo lançamento R$ 123,1 milhões de potencial construtivo máximo, benefício concedido pela prefeitura curitibana em função do estádio do clube ser um dos estádios da Copa 2014. Também os balanços de Grêmio e Palmeiras tiveram seus números muito inflados em função do lançamento de R$ 42,7 milhões como receita extraordinária pelo Grêmio (e o balanço disponível no site do clube não apresentava as fundamentais notas explicativas) e R$ 57,9 milhões pelo Palmeiras, nesse caso pela incorporação de dois prédios construídos pela WTorre como parte do acordo para a construção da Arena Palestra. Nos meus posts sobre balanços não contabilizo nenhum desses lançamentos, pois não são receitas de fato.
Feitas as ressalvas acima, a Pluri destaca os lançamentos feitos pela nova direção do Flamengo, que graças a eles apareceu em 1º lugar com a maior despesa financeira líquida, equivalente a 24,4% da receita bruta de R$ 212 milhões (R$ 51,8 milhões). O número tem caráter excepcional, já que a nova diretoria optou por corrigir todos os passivos que não vinham sendo adequadamente registrados nos balanços anteriores. O Botafogo aparece em segundo lugar com despesas equivalentes a 22,6% das receitas brutas, e o Fluminense surge na terceira, com despesas iguais a 19,5% das receitas totais.
Os dados foram obtidos dos balanços dos próprios clubes, e a Pluri faz uma ressalva importante: há fortes indícios de que nem todos os clubes contabilizam adequadamente os seus passivos com as devidas correções, em especial no que se refere aos tributos. Desta forma, é razoável acreditar que as despesas financeiras são ainda maiores do que as que foram mostradas nesse relatório. De minha parte, concordo plenamente com essa avaliação da Pluri. Infelizmente, acredito que o tempo irá mostrar que essa é a realidade.