Logo após a eleição de outubro no Grêmio, o presidente Fábio Koff e o diretor executivo Rui Costa se reuniram com agentes à procura de sugestões de reforços. Em um dos encontros, ouviram do empresário Rogério Braun o nome do chileno Eduardo Vargas e se seduziram de imediato. Consultado a respeito, o técnico Vanderlei Luxemburgo se entusiasmou pela ideia – mas em seguida arrefeceu o ânimo. Seria quase impossível trazer para Porto Alegre um jogador do Napoli, da Itália, com um agravante: tratava-se de um atacante, moeda valorizadíssima no futebol europeu.
Quase 40 dias depois, Vargas, Rui Costa, empresários e a direção do Napoli assinaram o empréstimo no escritório do clube em Roma, e o negócio até então improvável se concretizou. O Gre-Nal do Estádio Centenário carrega esse estigma, o de atacantes sul-americanos “europeizados”. Na mesma mesma situação de Vargas estão Barcos (que pode ser preservado), o uruguaio Forlán e até D’Alessandro, tomando a liberdade de acrescentar um meia-atacante ao time dos finalizadores. Grêmio e Inter têm longo histórico de recorrer aos hermanos, mas o fato é que hoje o perfil da moda parece ser o de atacante com status de clube italiano, inglês ou espanhol.
A economia ajuda, o mercado aumenta, a televisão paga mais, as marcas se valorizam, o marketing arranja saídas e a receita dos clubes cresceram 80% explica Fernando Ferreira, sócio diretor da Pluri Consultoria, empresa que avalia o comportamento do futebol. A dupla Gre-Nal, por exemplo, hoje não apenas repatria brasileiros como investe em atacantes e meias de armação. D’Alessandro, Zé Roberto e Elano entram neste contexto. Na metade de 2012, a contratação pelo Inter de Diego Forlán, o melhor da jogador da Copa do Mundo de 2010, demandou meses de negociações de valores, de acordos contratuais e de injunções trabalhistas típicos de grande comercialização de comércio exterior. Forlán lotou o Salgado Filho e encheu o bolso. Além do salário de R$ 400 mil mensais acertou outro tanto como pagamento fatiado de suas luvas em 12 vezes.
E olha que o poder do real já não desponta tão forte quanto era há um ano e meio. Ainda assim, o Corinthians trouxe Pato do Milan pagando 15 milhões de euros. Brasil, Turquia, Ucrânia e Rússia são quem mais contrata porque são as economias que crescem justifica Ferreira, lembrando as contratações de Sneijder e Drogba pelos turcos. A gente ainda não está neste patamar diz. Grêmio e Inter exibem Forlán, Vargas e Barcos até porque passaram parte da história acolhendo forasteiros, alguns com sua importância devida em outros tempos. Desde os anos 2000, a Dupla contratou 15 atacantes sul-americanos, cinco pelo Inter e 10 pelo Grêmio. No mesmo período, 18 zagueiros, laterais e goleiros aportaram no Beira-Rio e Olímpico.
Nos anos 70, os goleiros Manga, do Inter (que era brasileiro mas havia muito estava no Uruguai), e Cejas, do Grêmio, se não foram trazidos com sacos de dinheiro, chegaram para suprir uma posição tradicionalmente carente entre os brasileiros. Também eram os tempos dos zagueiros, o chileno Figueroa, do Inter, e o uruguaio Ancheta, do Grêmio. Depois, o zagueiro uruguaio De León e o lateral paraguaio Arce fizeram história no Grêmio, como o uruguaio Rúben Paz, no Inter.
O Brasil continuará comprador pelos próximos 10 anos, apostam os especialistas. O advento da Copa do Mundo e as arenas levarão mais público para os jogos e farão com que mais sócios se liguem aos clubes. O presidente Giovanni Luigi concorda com isso, com uma ressalva: Tão cedo não contrataremos mais estrangeiros. Se não, como vamos usá-los? Já temos os nossos três afirma o dirigente, referindo-se a Dátolo, D’Ale e Forlán.