O impacto da desvalorização do Real sobre a janela de transferência de jogadores
Faturamento em Euros convertido pela taxa de câmbio atual atinge 770 milhões, quase 10% a menos que os 851 milhões de faturamento convertidos pela taxa média de 2011
Fernando Pinto Ferreira
O efeito da alta do Dólar e do Euro sobre a janela de transferências de jogadores
No próximo dia 20 de junho será aberta a janela de transferências de jogadores estrangeiros, período em que os clubes brasileiros poderão
contratar jogadores no mercado internacional.
A janela ocorre em um ambiente de crescente interesse dos times brasileiros pela contratação de jogadores estrangeiros (em especial os sul-americanos), ou pela repatriação de jogadores brasileiros que atuam no exterior. Porém, ao contrário do que vem ocorrendo no passado recente, a janela deste meio de ano coincidirá com um período de forte desvalorização do Real frente ao Dólar e ao Euro, o que enfraquece o poder de compra dos clubes nacionais.
A crise econômica européia, aliada aos persistentes déficits nas contas externas brasileiras, e a redução do ingresso de capital estrangeiro para investimento em renda fixa (devido às quedas da taxa Selic), são alguns dos principais fatores a explicar a alta do Dólar frente ao Real, que já acumula cerca de 28% nos últimos 12 meses.
O que alivia um pouco a situação é o fato de a mesma crise européia ter enfraquecido o Euro (a moeda chave nos negócios do futebol) frente ao Dólar, o que resultou em uma alta da moeda européia frente ao Real bem mais modesta, de 12% no mesmo período.
Considerando a taxa de câmbio R$ X Euro atual de R$ 2,57, já temos uma alta de 11% em relação à última janela de transferência, que foi de 12 de janeiro e 4 de abril.
Para se ter uma ideia do impacto da desvalorização do Real sobre o poder de compra de nossos clubes, basta dar uma olhada em seus balanços. Veja na tabela abaixo as receitas dos 14 clubes que mais arrecadam, e o impacto da alta do Euro em termos de receitas.
A tabela acima mostra o faturamento dos clubes em R$ e convertidos para Euros pela taxa média do ano de 2011 (R$ 2,327) e pela taxa atual (R$ 2,57). Reparem que o faturamento em Euros convertido pela taxa de câmbio atual atinge 770 milhões, quase 10% a menos que os 851 milhões de faturamento convertidos pela taxa média de 2011. Ou seja, estamos falando de um impacto cambial negativo em 80 milhões, que pode ser amenizado ou revertido por um aumento do faturamento em R$, mas de qualquer maneira o estrago já está feito.
Outro atenuante é o fato de termos uma fortíssima crise econômica na Europa, que certamente tem efeito baixista sobre os valores de transferências e os salários de jogadores, o que também ajuda a neutralizar a menor quantidade de Euros nos cofres dos clubes brasileiros. Mas é sempre bom tem em mente o risco de distorções no mercado causadas pelas ações de sheiks, bilionários russos e afins.
Ainda é cedo para mensurarmos com mais precisão o impacto da desvalorização do Real sobre o mercado de transferências de jogadores de, e para o Brasil. Para isso, é importante acompanhar o rumo da taxa de câmbio nos próximos meses. Todavia, como não parece ser transitória a combinação de um ambiente econômico externo negativo, com taxas de juros mais baixas no Brasil, é factível trabalhar com um Real razoavelmente mais desvalorizado do que nos acostumamos nos anos recentes. E que cada clube trabalhe para neutralizar seus efeitos.
Economista, Especialista em Gestão e Marketing do Esporte e Pesquisa de Mercado.
Contato: fernando@plurisports.com.br
Twitter: @fernandopluri
Leia mais:
Entrevista com Fernando Pinto Ferreira, fundador da Pluri Consultoria
Fonte: http://www.universidadedofutebol.com.br/2012/06/2,16434,O+IMPACTO+DA+DESVALORIZACAO+DO+REAL+SOBRE+A+JANELA+DE+TRANSFERENCIA+DE+JOGADORES.aspx