A compra e venda de direitos econômicos de jogadores movimenta bilhões, mas pode ser proibida pela Federação Europeia de Futebol.
Com um ganho de 500% no investimento feito no craque Neymar, o grupo DIS é a ponta mais visível de um negócio que apresenta grande crescimento no Brasil, a compra e venda de direitos econômicos de jogadores de futebol.
O mercado, que movimenta US$ 3 bilhões por ano no mundo, atrai cada vez mais empresas e investidores individuais atentos à perspectiva de ganhos milionários e, em breve, pode ter sua primeira empresa em bolsa, a Atletas Brasileiros SA.
Envolta em grande polêmica, porém, a compra e venda de jogadores para investidores particulares é questionada pela Federação Europeia de Futebol, a Uefa, que pede sua proibição.
“Com a bolsa de lado há anos, os juros mais baixos e os preços dos imóveis lá em cima, vem aumentando o interesse de investidores em direitos econômicos de jogadores”, afirma o sócio diretor da Pluri Consultoria, Fernando Ferreira.
O conceito de direitos econômicos define quem são os reais “proprietários” de um jogador de futebol. É diferente dos direitos federativos, que indicam o vínculo do atleta com o clube. Antes dominado por grandes grupos, geralmente ligados a empresários de jogadores, o mercado já atrai investidores individuais que buscam uma aposta de risco, mas com grande perspectiva de lucro.
No caso de Neymar, os direitos econômicos eram divididos entre o Santos (clube que revelou o jogador), com 55%, a DIS (empresa de um dos donos do grupo Sonda), com 40%, e um fundo de investidores-torcedores, com os 5% restantes. Uma das principais empresas do mercado, a DIS comprou sua fatia em 2010, por R$ 5 milhões. Com a venda do craque ao Barcelona, anunciada no sábado, terá direito a R$ 30 milhões.
“Um ganho destes é tão raro quanto surgir um novo Neymar”, compara o advogado especializado Pedro Alfonsin, que gerencia, em seu escritório, sete fundos de investimento em direitos econômicos. “Mas ainda assim o mercado oferece excelentes oportunidades”, completa.
O banco BMG, outro grande do setor, anunciou rentabilidade de 78% em seu fundo de gestão de jogadores em 2012, ganho sete vezes maior do que o da Bovespa. O rendimento foi inflado pela venda do jogador Oscar, do Inter-RS, ao Chelsea, por 32 milhões. O BMG tinha 25% dos direitos econômicos do atleta.
“É um mercado que dá muito trabalho, exige paciência, mas, quando um negócio dá certo, dá um bom retorno”, comenta Alfonsin. “E de altíssimo risco. Para cada 10 ou 20 jogadores, dois ou três dão certo”, completa o consultor de gestão esportiva da BDO Brazil, Pedro Daniel, lembrando ainda que existe o risco de contusões reduzirem a expectativa de ganho com um jogador.
Baseado no Rio Grande do Sul, Alfonsin, tem entre seus clientes, investidores americanos que patrocinam um fundo detentor dos direitos econômicos de dez jogadores no Brasil, além de outros investidores individuais. De olho nesses recursos, o Flamengo trabalha na criação de uma empresa para aquisição de direitos econômicos de atletas, com recursos de terceiros, para investimentos apenas em jogadores do clube.
No Paraná, a empresa Atletas Brasileiros S.A., parceira do Paraná Clube, planeja abrir capital na bolsa, apresentando como ativo uma carteira de 59 jogadores, com valor de mercado de R$ 64,4 milhões.
A abertura de dados sobre a carteira de clientes é um raro exemplo de transparência neste mercado. “Normalmente, sabemos quem é o dono apenas depois que o jogador é vendido”, comenta o consultor especializado Amir Somoggi.
O mercado especula que, DIS, BMG e Traffic sejam as maiores empresas do segmento – esta última recuou após a fracassada operação para lucrar com a volta de Ronaldinho Gaúcho ao Flamengo. São comuns as críticas e suspeitas com relação à relação entre os investidores e os clubes, com relação a um jogo cruzado de interesses na venda dos atletas.
Essa é uma das justificativas para a ofensiva da Uefa pela proibição da venda de direitos econômicos a terceiros. “Pelo bem do futebol, isso deveria ser proibido”, concorda Daniel, da BDO Brazil, para quem os clubes são prejudicados na relação com os investidores, que visam o lucro rápido em detrimento dos resultados em longo prazo.
“Hoje, a compra e venda de jogadores representa apenas 16% da receita dos clubes da série A, que deveriam se concentrar em prestar um serviço de entretenimento de qualidade para ganhar mais com outras receitas”, analisa Daniel.