Merecem o perdão?
POLÍTICA ESPORTIVA
Dívida bilionária dos clubes de futebol com o governo é tema de discussão entre parlamentares. Anistia dos débitos com o fisco pode virar medida provisória, como forma de acelerar o processo
Braitner Moreira
Representantes eleitos por voto popular podem tirar das contas do Estado um crédito que supera os R$ 2 bilhões e poderia ser investido em saúde, educação ou saneamento básico. Esse é o valor da dívida tributária dos clubes de futebol com o fisco. Só as 12 maiores equipes do país acumulam débitos de R$ 1,8 bilhão, em dados de 2011, os mais recentes disponíveis ainda não foram divulgados os balanços fiscais relativos a 2012. O tema está em discussão por parlamentares que vão se reencontrar, amanhã, na Câmara dos Deputados.
Na quarta-feira passada, dia da primeira reunião de uma série prevista para durar todo o semestre, 12 deputados discutiram o futuro da dívida das equipes. O tema chegou ao Congresso sob orientação do Poder Executivo. Em troca do perdão dos débitos, as agremiações se comprometeriam a patrocinar programas sociais e olímpicos. Embora acreditem que exista a necessidade de uma ação diante da dificuldade dos clubes, alguns parlamentares se mostram relutantes quanto à ideia. Há um consenso de que precisamos achar um novo caminho, o futebol brasileiro está em condição preocupante, afirma o deputado federal Deley (PSC-RJ), ex-meia do Fluminense. Anistiar essa dívida não adiantaria nada. Daqui a 20 anos, voltaríamos à mesma situação, pondera.
A vultosa dívida dos clubes é problema antigo na agenda do governo federal. Na tentativa de acelerar o procedimento de perdão aos devedores, surgiu a ideia da edição de uma medida provisória, em vez de um projeto de lei (veja quadro acima). Haveria, assim, menos tempo disponível para discussão em plenário ou audiências públicas. O projeto de lei amplia o debate e a participação democrática. Já a medida provisória é só uma canetada, sem debate algum, explica o advogado Ronaldo Tolentino, especializado em direito desportivo.
Uma possível anistia aos times de futebol poderia esbarrar no Código Tributário Nacional, alerta o jurista. O artigo 180 alerta que não é possível haver anistia em atos qualificados como crimes ou contravenções. É crime ter dívida com a previdência social ou não recolher fundo de garantia. Mais da metade das dívidas fiscais dos clubes vem daí, aponta Tolentino. O debate que pode levar a esse indulto é criticado por Romário (PSB-RJ), presidente da Comissão de Turismo e Desporto (CTD) da Câmara dos Deputados. É muito simples você contrair uma dívida e, depois, deixar de pagar. Tributos estão dentro da Constituição e devem ser pagos, disse o ex-atacante da Seleção Brasileira.
Clubes pedem atenção
A maioria das equipes evita falar sobre o perdão às dívidas antes de o debate avançar. Não é possível que o esporte no Brasil sobreviva sem investimento do governo, seja via renúncia fiscal, seja via loterias, argumenta o presidente do Fluminense, Peter Siemsen. A última opção encontra dificuldades para avançar. No início da Timemania, em 2007, a Caixa estimava faturar anualmente R$ 520 milhões. No ano passado, em seu melhor ano, a loteria rendeu R$ 256 milhões desse valor, 22% foi destinado aos clubes.
Para diminuir o endividamento, há uma corrente de cartolas que pede a desobrigação de parte dos impostos cobrados dos times de futebol. Perdão não pode ter para ninguém, a lei tem que ser igual para todos. Mas uma isenção deveria entrar na pauta, acredita o diretor financeiro do São Paulo, Osvaldo Vieira de Abreu. A equipe tem uma das menores dívidas entre as grandes do país e a parcelou para assegurar o pagamento. O melhor jeito de evitar novos débitos é fazer valer a responsabilização criminal dos dirigentes, cobra Romário.
Dívidas fiscais dos grandes (em milhões de reais)
Botafogo 318
Flamengo 258
Fluminense 220
Atlético-MG 187
Vasco 170
Corinthians 133
Internacional 127
Santos 108
Grêmio 91
São Paulo 62
Palmeiras 61
Cruzeiro 57
Total: 1.791
Fonte: Pluri Consultoria
Fonte: http://www.senado.gov.br/noticias/opiniaopublica/inc/senamidia/notSenamidia.asp?ud=20130312&datNoticia=20130312&codNoticia=810935&nomeOrgao=&nomeJornal=Correio+Braziliense&codOrgao=2729&tipPagina=1