Post

Reino Unido corre em busca do ouro (dos outros)

Nº EDIÇÃO: 773 | Negócios | 27.JUL.12 – 21:00 | Atualizado em 27.07 – 21:40
Reino Unido corre em busca do ouro (dos outros)
Mergulhado na maior recessão desde 1945, o país-sede da olimpíada tenta atrair investimentos externos e turistas para virar o jogo da economia.
Por Luiz Fernando SÁ, enviado especial a Londres


 
 

Tarde da sexta-feira 27. Os trens chegam lotados à estação de Stratford, no extremo leste de Londres. Ondas de passageiros desembarcam excitados por participar de um momento histórico. Eles ainda não o veem, mas estão a poucos minutos do novíssimo Parque Olímpico, um magnífico complexo erguido ao custo de R$ 20 bilhões onde assistirão à tão aguardada cerimômia de abertura da 30ª Olimpíada. Como em procissão, seguem guiados por uma infinidade de placas de sinalização rosa, indicando os caminhos para o estádio. Na saída da estação, elas apontam para uma larga passarela. O ritmo é lento. Surgem as primeiras vistas das arenas. Grupos param e sacam suas câmeras. 
 
 
100.jpg
Corredor de consumo: o maior shopping do mundo recebe os turistas que pegam
o metrô para assistir aos jogos no Parque Olímpico.
 
Nas paredes laterais da passarela, o fundo vermelho destaca coloridas imagens com modelos sorrindo e mensagens de um dos principais patrocinadores do evento, a Coca-Cola. Mas há uma escala obrigatória nessa caminhada até o esperado destino. Para quem usa o metrô (estima-se que 75% dos donos de ingressos farão essa opção), não há como chegar a qualquer das instalações sem passar pelos corredores do reluzente Westfield Stratford City Mall, simplesmente o maior shopping center da Europa, erguido a um custo de R$ 5 bilhões no estratégico ponto de maior visibilidade do mundo nos próximos 15 dias. Eis a face da Inglaterra que recebe os Jogos Olímpicos. Mergulhada na mais profunda recessão do pós-guerra, a nação da rainha Elizabeth II aposta em projetos e promessas grandiosos, na expectativa de convencer britânicos e turistas a praticar um esporte que anda em baixa por toda a Europa: comprar. 
 
Ao mesmo tempo, no entanto, acossado por sucessivos indicadores negativos em sua economia, o governo adotou uma das mais severas e impopulares políticas de arrocho e colhe agora resultados que mostram como será difícil virar o jogo da economia. Apenas dois dias antes do que deveria ser o apogeu de um esforço de sete anos de preparação e investimentos para sediar a Olimpíada, o Escritório Nacional de Estatísticas informou, na quarta-feira 25, que o Produto Interno Bruto da região, formada por Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, caiu 0,7% no segundo trimestre, em relação aos três primeiros meses do ano. Foi o terceiro trimestre seguido ladeira abaixo, pegando o mercado já cabisbaixo após a eclosão do escândalo de manipulação da taxa de juros globais libor pelo Barclays e do envolvimento do HSBC, uma de suas principais instituições financeiras, em processos de corrupção e lavagem de dinheiro do tráfico nos Estados Unidos. 
 
É como se um bombardeio fosse lançado sobre a City londrina, maior centro mundial para transações de câmbio e empréstimos internacionais. “O país terá de enfrentar verdades e tomar decisões difíceis”, disse o primeiro-ministro David Cameron em um encontro com 400 empresários do mundo todo, na quinta-feira 26. Mais uma vez, enviava sinais contraditórios. Indicava que vêm por aí mais medidas de austeridade, ao mesmo tempo que fazia um apelo para que os homens da plateia abrissem suas carteiras e investissem na Grã-Bretanha. “Quero muito que nossos atletas ganhem medalhas, mas ainda mais desejo que deste momento de celebração resultem oportunidades entre a Inglaterra e outros países”, disse, citando que foi esse o tom de sua conversa na tarde anterior com a presidenta brasileira, Dilma Rousseff. 
 
“O legado desses Jogos também tem de incluir grandes negócios.” Enquanto Cameron fala em enfrentar verdades, os integrantes do governo elaboram explicações diversionistas para o desempenho da economia. Alegam que o mês de junho foi prejudicado pelo feriado de quatro dias relativo à celebração do Jubileu de Diamante da rainha e que as chuvas em excesso também foram responsáveis pelas vendas pífias no comércio nos últimos meses. Mas e o mercado imobiliário, que registrou dois tombos neste ano: 4,9% no primeiro trimestre e 5,2%, no segundo? O chamado “duplo mergulho recessivo” – o primeiro foi no biênio 2008-2009 – é considerado o pior em cinco décadas. Recentemente, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu de 0,8% para 0,2% a previsão de crescimento da economia britânica neste ano, mas há quem duvide até mesmo desse “zero a zero”. 
 
A recuperação, segundo o FMI, viria em 2013, com uma expansão de 1,4%. “O país tem problemas econômicos profundamente arraigados e estas cifras decepcionantes confirmam isso”, disse o ministro de Finanças, George Osborne, na quarta-feira 25. Braço-direito de Cameron, ele é o principal alvo da oposição, que tenta jogar a opinião pública contra o governo a cada novo indicador econômico divulgado. Ele ganhou destaque na mídia brasileira em março deste ano ao dizer que o Reino Unido não poderia ficar atrás do Brasil. Osborne parecia inconformado com o fato de que, em 2011, o PIB brasileiro ultrapassou o britânico, tornando-se o sexto maior do mundo. Considerando-se as previsões para 2012, o inconformismo deve continuar por um bom tempo.
 
O início dos Jogos pode ajudar o governo, desviando um pouco o foco dos problemas econômicos. Nove milhões de visitantes são esperados em Londres até 2015 e a estimativa das autoridades é de que o país, ao sediar as competições, atraia R$ 40 bilhões nesse período. Para o Banco da Inglaterra, a Olimpíada pode dar um impulso de 0,2% ao PIB do trimestre. Mas o resultado pode ser meramente estatístico, já que os cerca de 8,8 milhões de ingressos vendidos, embora pagos em 2011, serão contabilizados apenas agora e representariam 0,1% do PIB. O economista Howard Archer, da IHS Global Insight, acredita em um aquecimento, mas afirma que o evento não é uma panaceia. “A estrita política fiscal e os problemas dos consumidores continuarão limitando a atividade econômica britânica durante o ano”, diz Archer. 
 
101.jpg
Cameron e Dilma: “O legado dos Jogos também tem de incluir grandes negócios”,
afirmou o primeiro-ministro britânico à presidenta.
 
Mesmo o movimento de turistas está aquém do esperado. As reservas de hotéis ficaram 25% abaixo das expectativas. A despeito de todo o esforço promocional do governo, continua intacta a percepção da população de que as coisas não vão bem e há enormes questionamentos sobre os R$ 28 bilhões que saíram dos cofres públicos para as obras, cujo retorno econômico é incerto. Um estudo da Universidade de Oxford mostra que esse montante é o dobro do previsto inicialmente, em 2007, o que torna os Jogos de Londres o segundo mais caro da história, depois de Pequim. Apesar do momento desfavorável, a economia britânica ainda continua atraente aos olhos dos investidores internacionais. 
 

Uma pesquisa da consultoria Ernst & Young mostra que o Reino Unido é o destino preferido para negócios no Velho Continente, à frente da Alemanha e da França. Na semana retrasada, o governo britânico aproveitou o clima olímpico para comemorar a queda na taxa de desemprego de 8,3% para 8,1%. Segundo o ONS, a façanha só foi possível graças, principalmente, à geração de 50 mil vagas em Londres nos meses de março, abril e maio. Isso não foi suficiente para aplacar a acidez da revista britânica The Economist. “Os analistas acreditam que os Jogos vão impulsionar a economia no curto prazo, mas preveem uma ressaca em seguida”, escreveu a publicação. 
 
“A economia britânica continua no ritmo do ‘pare e ande’ (stop and go), com ênfase no ‘pare’.” Nas 250 lojas, 70 restaurantes e até um cassino do Westfield Mall, o pare é desejado, seguido de um olhe e compre. Nos corredores predominam cartazes com imagens de atletas, sobretudo do corredor jamaicano Usain Bolt, recordista mundial dos 100 metros rasos. Estiveram repletos durante toda a semana que antecedeu a abertura, mas as vendas não ganharam velocidade. “A maioria das pessoas que vêm aos Jogos irá parar, dar uma boa olhada e, estamos torcendo, consumir”, afirma John Burton, diretor da Westfield, companhia australiana que controla o shopping. “Mas pelo menos, estando por aqui, criará uma ótima atmosfera.”
 
DINHEIRO E MEDALHAS A guerra das medalhas atraiu consumidores pelo mundo afora. Todos, inclusive os atletas, sonham com o ouro. Serão 10,5 mil competidores para apenas 900 e poucas medalhas. Quem irá rir por último? Depende do esporte, e não da riqueza de quem disputa. Na prática, a conquista das medalhas não tem uma relação direta com o poderio econômico das nações (veja infográfico ao final da reportagem). Vejamos o caso da Etiópia e o da Bielorrússia. Apesar de exibirem um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 31,3 bilhões e US$ 55,5 bilhões, respectivamente, elas desbancaram o Brasil na Olimpíada de Pequim, com quatro medalhas de ouro, cada. 
 
Dono de um PIB de US$ 2,5 trilhões, o País conquistou apenas três medalhas douradas. E como esses países conseguiram tal façanha? Um estudo elaborado pelo escritor e estatístico americano Nate Silver mostra que os países que investem em esportes em que há menos concorrentes têm boas chances de levar a melhor. Ele avaliou as 32 modalidades das Olimpíadas de verão, sob três variáveis: os esportes com medalhistas de países que apresentam a renda média mais baixa, as modalidades que concentram menos pódios em poucas nações e aquelas que distribuem o maior número de medalhas por atletas envolvidos na disputa. 
 
Baseado nesses critérios, as melhores apostas para subir ao pódio recaem sobre os praticantes de luta livre, luta greco-romana, tae kwon do e levantamento de peso. No extremo oposto estão hóquei na grama, basquete e triatlo. Nesse contexto, o estudo de Silver pode funcionar como uma ferramenta no planejamento do Comitê Olímpico Brasileiro. “É um tabu o uso de estatísticas para tomar decisões em gestão esportiva”, diz Fernando Ferreira, fundador da Pluri Consultoria. “Mas creio ser possível selecionarmos algumas modalidades para investirmos de forma eficiente.”
 
102.jpg

Fonte: http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/91265_REINO+UNIDO+CORRE+EM+BUSCA+DO+OURO+DOS+OUTROS

ENZIMA LIVE SHOW! JORGE AVANCINI (INTERNACIONAL)

ENZIMA LIVE SHOW! VITOR ROMA (VASCO DA GAMA)

MELHORES MOMENTOS - AMIR GELMAN (WSC) - LEGENDADO

ENZIMA LIVE SHOW! AMIR GELMAN (WSC SPORTS)

Os PROBLEMAS do CALENDÁRIO do FUTEBOL BRASILEIRO