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Superclubes: o Brasil pode vir a ter um? Parte II

Superclubes: o Brasil pode vir a ter um? Parte II

seg, 25/06/12
por Emerson Gonçalves |
categoria Economia e FinançasGestãoGlobalização



As pré-condições para um clube brasileiro tornar-se um superclube
 
Na primeira parte desse trabalho vista no post anterior, tivemos uma visão geral do que o Fernando Ferreira, autor do trabalho e diretor da Pluri Consultoria, chama de superclubes e a listagem dos que ele assim considera. Nesse segundo post, vamos ver o que o autor considera como pré-condições para nossos clubes mudarem seu status.
Status que eu mesmo defino, hoje, como paroquial. Nossos clubes são conhecidos e atuam em nossa paróquia. Daqui não saem, exceto, quando muito, dando um pulinho rápido às paróquias vizinhas de Latino América, México incluso.
Não mais jogamos, como outrora, na Espanha, Itália, Holanda…
Não jogamos na Ásia. Não jogamos nos Estados Unidos. Algumas torcidas tem a ilusão criada por títulos mundiais ou nome ou alguma tradição, mas tudo não passa de ilusão.
O conhecimento dos clubes brasileiros é luxo restrito a pequena parcela de torcedores que, além do clube do coração, amam o futebol e dele querem saber tudo. Introdução feita, vamos ao post propriamente dito, com o trabalho do Fernando Ferreira.
 
Quais são as pré-condições para um clube brasileiro tornar-se um superclube?
Para o autor, há dois fortes conjuntos de obstáculos no caminho. O primeiro refere-se a questões estruturaisdo futebol brasileiro e o segundo cobre problemas dos próprios clubes voltados ao futebol.
Obstáculos estruturais:
               – Política do futebol brasileiro;
               – Calendário e campeonatos estaduais (torneios de pouca visibilidade internacional);
               – Falta de um mínimo de união entre os clubes;
               – Falta de qualidade na gestão das entidades.
Obstáculos dos próprios clubes:
               – Tradição – História e Conquistas; Tamanho da Torcida;
               – Mercado – Porte Econômico; Potencial de Consumo da Torcida; Grau de Envolvimento da Torcida; Exposição da Marca na Mídia; Reconhecimento Internacional da Marca;
               – Estrutura e Gestão: Responsabilidade Orçamentária; Qualidade da Gestão; Qualidade da Estrutura Organizacional e dos Profissionais; Separação entre Política e Gestão; Estádio e Outras Estruturas Esportivas – qualidade e propriedade.
               – Continuidade: é praxe nos clubes brasileiros, tal como no governo dessa república ao sul do Equador, que um novo presidente mude tudo e todos e gaste o que pode e o que não pode, afinal, ele tem que fazer história e ganhar eleição; e, assim, os clubes não conseguem desenvolver-se e crescer harmonicamente; temos soluços que jogam para cima e depois para baixo; chamam a isso de ciclos e acreditam que são naturais, que são da natureza do futebol; não são, são da natureza das gestões incompetentes e imediatistas (EG).
Temos na sequência uma figura que precisa ser lida com atenção e relida. Ela, de forma resumida, mostra o caminho a seguir. Leia o círculo central e depois siga as setas, uma a uma.

Tudo começa com uma gestão responsável, que trabalha dentro do orçamento.
É fundamental que os gestores tenham liberdade para trabalhar, sem sofrer pressões diuturnas de diretores, conselheiros, “torcedores importantes” e outros mais que, de maneira geral, tumultuam e atrapalham o dia-a-dia dos clubes. Todos com as melhores intenções sem dúvida, as mesmas boas e ótimas intenções que abundam no inferno (EG).
Lembra o Fernando, nesse ponto, que, essencialmente, a situação de um clube reflete a relação entre seus jogadores e a torcida.
A razão de ser de um clube de futebol é o futebol em si, claro, e a torcida. Tudo o mais é acessório (EG).
Voltando à palestra, o autor diz que três áreas deveriam ser cruciais nos clubes:
1-     Contratação de jogadores
2-     Ocupação do estádio
3-     Monitoramento da evolução da torcida
E vem uma pergunta simples, sutilíssima em sua simplicidade: algum clube brasileiro possui isso em sua estrutura?
Chegamos ao que ele considera o ponto crítico para a evolução de um clube de futebol: o tamanho da torcida, sua renda e potencial de consumo, colocando dois pontos para análise:
– Quanto há de recursos nos bolsos dos torcedores;
– Quanto estão dispostos a gastar com o clube do coração.
Aqui um parênteses: a Pluri dá grande destaque ao potencial do torcedor como consumidor de produtos do próprio clube, como vimos já detalhado em quatro posts a respeito (clique aqui para a Parte I). Mas o potencial de consumo de uma torcida é decisivo para o marketing, pois para as empresas investirem em patrocínio e outras ações mercadológicas, quanto maior for a possibilidade dos torcedores comprarem seus produtos, mais atrativa será a camisa ou a associação com o clube. Isso vale para uma fabricante de automóveis e para uma de desodorantes, para um banco ou para uma escola (EG).
A Pluri dividiu as torcidas em seis grandes grupos, de acordo com o tamanho, fator que, como já vimos, é um dos determinantes na evolução de um clube para superclube, como mostram o gráfico e a tabela a seguir.


 A próxima tabela mostra o percentual de torcedores que, de acordo com a pesquisa, consumiram ao menos um produto de seu clube do coração nos doze meses anteriores à realização da mesma.

Por trás desses números e dos diversos trabalhos relacionados a pesquisas, patrocínios e outros,está uma realidade pouco ou nada apreciada pela grande maioria dos torcedores: o Poder Econômico nunca foi tão importante no futebol, tanto no Brasil como em todo o mundo, como é agora.
Nesse trabalho, Fernando Ferreira diz ser uma tendência, mas eu acredito que ela já deixou para trás o status de tendência para ser uma realidade, da qual não há como fugir (EG).
Voltando ao fator torcida, um ponto importante é levantado no que diz respeito ao futebol brasileiro: das 27 unidades da federação, em somente 5 estados a maioria dos torcedores preferem os times locais aos de outros estados: Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco, como podemos ver na tabela a seguir:

 Outro ponto importante levantado e que vai deixando de ser tendência para tornar-se realidade e não só no Brasil como em muitos outros países fortes no futebol, é o aumento da distância entre os clubes grandes e superclubes e os outros. Tal fato levará à perda de status para muitos clubes hoje grandes, que em questão de anos farão parte do grupo dos clubes médios.
Evolução de uma torcida
A próxima tabela mostra uma situação bastante interessante, até para esclarecer alguns pontos frequentemente distorcidos. Como, por exemplo, que a mídia por si só “levanta” um clube. Ela, sem dúvida, tem papel importante, em especial nos dias de hoje, mas muitas torcidas cresceram ou diminuíram em termos percentuais, antes da consolidação do papel de importância que a mídia adquiriu no nosso dia-a-dia.

Reparem na tabela acima que já em 1954, quando a televisão ainda engatinhava, o Flamengo liderava a preferência do torcedor carioca. Essa preferência cresceu sete pontos percentuais até 1971, período durante o qual a televisão foi se fazendo presente na vida das pessoas, mas muito lentamente. O grande salto do televisor como equipamento padrão nos lares brasileiros, deu-se a parti dos anos do “milagre econômico” – 1970 a 1973. Também nesse período tivemos o início das transmissões via satélite, com a Copa de 70, e a chegada das cores ao mercado brasileiro. Nessa fase, pouco mais de um terço dos cariocas torciam pelo clube da Gávea, percentual que seguiu aumentando até o início do século presente, quando estabilizou-se, aparentemente (EG).
O que faz uma torcida crescer
Voltando ao trabalho do Fernando, a partir desse ponto ele lista alguns pontos que levam ao crescimento de uma torcida, entre os quais ele destaca:

Títulos são importantes, mas não podem ser conseguidos todo ano, ao menos na vida real. Por outro lado, um clube bem estruturado, com boa gestão, boas receitas, tem plenas condições de manter-se competitivo, disputando títulos em todas as competições. Esse desempenho reforça ou mantém a imagem do clube boa, no topo, e garante grande número de jogos transmitidos, o que vai manter ou aumentar a exposição de sua marca e de seu patrocinador (ou patrocinadores). Um clube em boa situação pode manter ídolos por mais tempo, sem sacrificar suas finanças.
Falar de gestão e finanças pode ser chato, mas o crescimento de uma torcida começa e termina por aí (EG).
 
Competições, Público, Estádios
Os dois primeiros pontos são problemáticos e o terceiro ainda é, mas a perspectiva da entrada em operação plena dos estádios da Copa, em 2015, muda a situação em parte.
O Campeonato Brasileiro é apenas o 13º mais visto do mundo, perdendo em média de torcedores para Estados Unidos e China, como mostra a tabela:

É bom notar que nossa média de público é muito menor que a mexicana – 40% a menos – e inferior também às médias das segundas divisões da Inglaterra e Alemanha.
Entre os 100 clubes com maior média de público do mundo, apenas 3 são brasileiros: o Santa Cruz, em 39º lugar, o Corinthians em 62º e o Bahia na 100ª posição.
Em 2011, com média inferior a quinze mil pessoas por jogo e ocupação de 40% da capacidade disponível, mais de 7 milhões de ingressos deixaram de ser vendidos. Os números ruins não param por aqui. Pela estimativa da Pluri Consultoria, mais de 200.000 pessoas viram jogos do Brasileiro 2011 sem pagar ingresso.
Esses números significam mais de 200 milhões em receita não realizada com a venda de ingressos e isso apenas no Campeonato Brasileiro. Uma média de 10 milhões por clube e um impacto econômico direto e indireto no valor de quase 1 bilhão de reais.
As causas para esses números são muitas, entre as quais:

 

Acredita-se que passada a Copa 2014 e com os novos estádios em operação, o público médio crescerá 40% sobre os números de 2011 e pulará para pouco mais de 20.000 torcedor pagantes por jogo. Mesmo assim, a ocupação média permanecerá abaixo de 60%, significando que os clubes, como maiores interessados, tomem medidas adicionais para reverter esse quadro.
Há, ainda, os valores de receitas e os valores das dívidas (presentes em vários posts nesse OCE), que constituem outros obstáculos para a criação de um ou mais superclubes no Brasil. No próximo post sobre esse estudo, veremos como alguns clubes estão posicionados com relação a essa possibilidade: tornar-se um superclube.

Fonte: http://globoesporte.globo.com/platb/olharcronicoesportivo/2012/06/25/superclubes-o-brasil-pode-vir-a-ter-um-parte-ii/

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