Terra estrangeira: jogadores de países sul-americanos invadem o Brasil
Roger Dias – Estado de Minas
Publicação:
22/01/2012 14:03
Atualização:
22/01/2012 14:09
Eles estão em toda parte, principalmente em Minas. Com sotaque pouco comum, fisionomias diferentes e estilo de jogo próprio, serão atrações à parte no Estadual, que começa no próximo fim de semana. Os jogadores estrangeiros já haviam invadido o Brasil desde a última temporada, mas agora prometem fazer a festa na terra das Alterosas. No Atlético, Cruzeiro e América, os gringos são esperanças de vitória e prometem fazer a camisa 10 brilhar, mas com outro idioma. Até o modesto Democrata-GV resolveu investir em talentos de países vizinhos para lutar pelo título.
O panorama do futebol nacional mudou gradativamente graças à estabilidade econômica e à facilidade de pagar salários que os atletas jamais sonhariam em seu país de origem. Os dirigentes brasileiros começaram a observar o mercado sul-americano em busca de soluções para a falta de craques no país. O sucesso do argentino Montillo no Cruzeiro motivou outros clubes do estado a importarem estrangeiros, sejam da elite ou da segunda e terceira divisões.
O Brasil passa por momento econômico de regularidade, representando 40% do PIB sul-americano. Nossos clubes têm mais força do que os vizinhos. Até os de menor porte podem se beneficiar ao trazer estrangeiros. Muitas vezes, têm condições de oferecer um salário digno, que não ganhariam no país de origem, afirma o consultor e empresário esportivo Fernando Ferreira.
Só no Campeonato Mineiro, serão oito gringos. Além de Montillo, Victorino e Arias no Cruzeiro, o Atlético terá o armador Escudero, o América investiu em Sebastián Sciorilli e o Democrata-GV trouxe um trio uruguaio o lateral Jorge Garcia, o armador Luís Oyarbide e o atacante Adrián. O Boa quase acertou com o atacante equatoriano Caicedo, mas o Lokomotiv Moscou não o liberou. No ano passado, o Villa Nova apostou no argentino Palermo, que não se adaptou e foi embora.
Quando se destacou pela Universidad de Chile, Montillo recebia R$ 80 mil mensais, salário considerado top de linha no futebol chileno. Hoje, o valor ultrapassa R$ 200 mil e o Cruzeiro promete novo reajuste, por causa da valorização do jogador, alvo de propostas de Corinthians e São Paulo. Recentemente, a Raposa se desfez do paraguaio Ortigoza e do argentino Farías, por não ter espaço para todos a legislação da CBF permite apenas três estrangeiros por time.
Carência
A Raposa teve dificuldades para emprestar Farías ao Independiente por causa do alto salário (mais de R$ 200 mil), sendo que o clube mineiro ainda terá de pagar uma parte do que o jogador receberá. Para o presidente Gilvan de Pinho Tavares, o momento é oportuno para a entrada de outros sul-americanos: A moeda nacional está forte em relação aos demais países. Os valores que os clubes pagam fora estão abaixo do que tentam negociar aqui.
Marcus Salum, integrante do conselho administrativo do América, explica que o futebol nacional está em falta de jogadores em certos setores. Por isso, ele apostou em Sebastián, revelado pelo River Plate, porém desconhecido na Argentina (estava atuando pelo Independiente Rivadávia, da Segunda Divisão): É uma posição carente no Brasil e que os argentinos se tornaram referência. Nos últimos anos, os grandes armadores do futebol brasileiro são de outro país sul-americano. Seu salário é estimado em R$ 15 mil. No Atlético, Escudero chegou por empréstimo do Boca Juniors e ganha aproximadamente R$ 100 mil.
Para Fernando Ferreira, os gringos têm facilidade para se adaptar ao futebol brasileiro: Além de serem baratos, têm a vantagem geográfica, pois estão próximos da família. Se fossem para a Europa, teriam dificuldades em relação à alimentação e ao idioma e ficariam implorando para voltar. A tendência é aumentar a oferta estrangeira e o preço dos salários caírem. Os brasileiros se beneficiam disso.
Reforços a preço baixo
Desde que o argentino Carlitos Tevez se transferiu para o Corinthians em 2004, a atração dos dirigentes brasileiros por destaques sul-americanos cresceu consideravelmente. Se os clubes menores buscaram solução para driblar a crise financeira e trazer jogadores mais baratos, os grandes viram a chance de também reduzi
r os custos sem prejudicar a qualidade técnica das equipes, que se mantêm reforçadas sem ônus elevados no balanço financeiro. Um jogador brasileiro teria salário menor do que o dos colegas argentinos, paraguaios ou uruguaios.
Há 10 anos, o Campeonato Brasileiro contava com apenas cinco estrangeiros o uruguaio Gutiérrez (ex-Atlético), os paraguaios Arce e Gamarra, o chileno Maldonado (ex-Cruzeiro) e o colombiano Muñoz. Hoje, os 12 principais times da Primeira Divisão contam com 31 atletas que nasceram longe das fronteiras brasileiras. O Timão decidiu inovar, pensando numa possível estratégia de marketing: trouxe o armador chinês Chen Zhi-Zhao, de 23 anos, que ficará no Brasil por empréstimo de dois anos. É uma tentativa de ampliar a popularidade dos paulistas no oriente.
Hoje os salários pagos na Europa não são tão atrativos. Por isso, eles optam por permanecer ou vir para o Brasil, ressalta o diretor de marketing da Traffic, Mauro Holzmann. Curiosamente, o clube brasileiro que mais conta com estrangeiros é o Figueirense: quatro. Além do volante paraguaio Wilson Pittoni, presente nas últimas convocações da Seleção Guarani e um dos destaques do último Campeonato Brasileiro, os catarinenses têm o lateral Saldívar (também do Paraguai), o lateral Canuto e o atacante Niell (ambos da Argentina).
Lucro
A razão de apostar nos gringos passa também pelo lucro, pois os atletas teriam maior destaque no país e depois seriam vendidos a clubes da Europa ou árabe. O Internacional está prestes a negociar o argentino DAlessandro por cerca de R$ 22 milhões ao Shanghai Shenhua, da China. Ele foi contratado em 2008 pelo Colorado por cerca de R$ 13 milhões.
Na contramão
Se o Brasil é atualmente o Eldorado para os jogadores sul-americanos, há quem nade contra a corrente e, mesmo tendo chance de atuar no país, diz não, ainda que isso represente prejuízo financeiro. Caso do zagueiro equatoriano Jairo Campos, que tinha contrato com o Atlético até o fim deste ano, mas pediu a rescisão para continuar atuando em seu país, mesmo estando nos planos do técnico Cuca. O defensor chegou ao clube alvinegro em janeiro de 2010 e disputou 44 jogos, marcando um gol. Como o time todo foi mal na temporada, acabou emprestado ao Deportivo Quito em 2011. Na primeira semana de 2012, esteve na sede de Lourdes para assinar a rescisão, abrindo mão do salário que girava em torno de US$ 50 mil (cerca de R$ 88 mil) mensais. As informações dão conta de que ele tem proposta de um clube equatoriano para ganhar US$ 20 mil (R$ 35,2 mil) por mês.
Fonte: http://www.superesportes.com.br/app/1,9/2012/01/22/noticia_atletico_mg,207298/terra-estrangeira-jogadores-de-paises-sul-americanos-invadem-o-brasil.shtml